EXPEDIÇÃO MORRO DO ARAÇATUBA (Pr) AO MONTE CRISTA (SC)

EXPEDIÇÃO MORRO DO ARAÇATUBA (Pr) AO MONTE CRISTA (SC)

No final de semana de 25, 26 e 27 de setembro de 2015 participamos de uma aventura no mínimo inusitada, foram 22 aventureiros de Londrina, 1 de Itajaí (SC) e 2 de Curitiba que se embrenharam por meio da mata atlântica no Estado do Paraná, iniciando no Morro do Araçatuba, e em um trecking de 60km, passando pelo vale do quiriri, atingiram o Monte Crista, na cidade de Garuva em Santa Catarina.
A preparação e planejamento para a aventura começou três meses antes, com o estudo e escolha do local, a logística a ser implementada, a preparação física dos participantes e a estrutura de carregamento do que levar, alojamento e alimentação, nos mínimos detalhes.
Alugamos um ônibus, preparamo-nos psicologiamente e fisicamente, trocamos idéias do que carregar e ajustamos nossos equipamentos à necessidade da expedição.
Saímos de Londrina as 23 horas da quinta feira com destino a Curitiba onde pegaríamos mais dois companheiros que nos auxiliariam na travessia, caminharíamos na sexta, sábado e domingo. Feito isso, partimos em direção ao Morro do Araçatuba, que fica entre Curitiba e Garuva.
Chegamos no pé do Morro do Araçatuba por volta das 9 e 30 horas, local de início da caminhada, retiramos as mochilas do ônibus, trocamos nossas roupas, ajustamos as coisas e fizemos um briefing com as orientações para a travessia, além é claro de uma oração com pedidos ao Pai de resguardar a todos.

Dia 1

O inicio da travessia era uma subida incondicional do Morro do Araçatuba, foram 4km de subida ingreme que iniciou-se a 900 metros de altitude e terminou a 1672 metros, no cume. O Araçatuba foi um bom teste para mostrar-nos o que nos esperava para os próximos 56 km. No alto do morro, ainda sem chuva mas com vento forte, fizemos nossa primeira parada mais longa, 10 minutos para recomposição, visto que iríamos nos embrenhar por descidas e subidas bem fortes.


Descemos aproximadamente 1km e, por problemas físios, o Luciano Rizzo resolveu voltar. Seu tornozelo direito estava com muita dor. Como o Luciano estava de par com o Edson Feitosa, este também voltou pois naquela região não é conveniente ficar só.


Neste momento, perdemos o traçado da trilha e precisamos utilizar o GPS para nos guiar e ajudar encontrar a trilha novamente. Tomamos um caminho errado por uns 100 metros, ladeira abaixo, e como não encontramos a trilha resolvemos voltar até o último ponto onde estávamos na trilha.
Saímos, eu e Ary, com o GPS para encontrar a trilha e direcionar o pessoal. Começou uma chuva muito forte. Conseguimos localizar a continuação da trilha. Quando voltei para chamar o pessoal, alguns imediatamente vieram para a trilha, no entanto 9 aventureiros estavam protegidos da chuva embaixo de uma lona preta e se recusavam a sair debaixo. Dois deles até falaram em desistência. Pensem bem, 14 pessoas na trilha, debaixo de uma chuva forte aguardando 9 que estavam debaixo de uma lona e não se habilitavam de sair de lá. Precisou mais dois camaradas voltar e intimá-los a continuar, ou, se fosse o caso, desistir e voltar de uma vez, desempacando os demais. Ficou feio, mas todos resolveram voltar à trilha, e nós estavamos apenas no 5º km. Seguimos a caminhada por uma trilha em mata densa, descida íngreme, sob chuva, e logo ao saírmos da mata encontramos água corrente. Para quem não sabe em lugares como este, desprovido de tudo, o reabastecimento de água torna-se imprescindível até mesmo por uma questão de sobrevivênia e não se pode desprezar nenhuma fonte, e assim fizemos durante toda caminhada pelos seus 60km. Faz-se necessário também, tratar toda e qualquer água que será utilizada para tomar, evitando-se a contaminação e possível desconforto de saúde. A trilha aparentemente desapareceu dos 6 aos 10 km, houve necessidade de seguir a rota marcada pelo GPS, e a isso adiciona-se subidas e descidas constantes, por caminhos desconhecidos e com necessidade de grande esforço físico. Do km 10 até o km 15 foi por estradas rurais com a presença de reflorestamento de pinus. A idéia era caminhar por uns 20km, mas como iniciamos tarde a caminhada, tivemos alguns problemas de percurso e a noite ja estava chegando resolvemos acampar. Rapidamente cada um procurou lugar para montar sua barraca, preparou seus aposentos, trocou a roupa molhada, preparou o que iria comer, muniu-se de água, montou a estratégia para o dia seguinte e descansou.

Dia 2

A noite foi relativamente tranquila, pouco vento e quase não choveu. A alvorada estava prevista para as 7 horas da manhã e a saída para as 7 e 30 horas, no entanto a agitação no acampamento começou as 6 e 30horas, com desmontagem das barracas e preparação das mochilas pra sair, além disso, preparamos o café da manhã. As 7 e 30 horas reunimos todo o pessoal e passamos algumas orientações básicas de como iria transcorrer o dia, ou seja, como iríamos fazer as paradas para descansar e comer.

Dito isso, iniciamos o nosso segundo dia de caminhada. Na primeira etapa do dia, passamos por um lugar onde denominam ‘Inferno Verde’, trata-se de uma região de reflorestamento, com montanhas por todos os lados, subidas e descidas fortes em estradas utilizadas preferencialmente por tratores, apesar de os que vimos estavam sucateados sem condição de utilização, acampamentos desabitados, muitas pedras soltas e por decorrência das chuvas que nos acompanharam todo o trecho, muita lama.


Para este dia 2, resolvemos que iríamos seguir na íntegra o GPS e nesta primeira etapa caímos numa pegadinha interessante, andávamos por uma estrada e a rota do GPS indicava entrar numa área de reflorestamento, fora da estrada, como o combinado era seguir a rota, fomos em frente… procura aqui, segue rota alí, encontra trilha logo à frente, segue a trilha e caímos num rio cheio de pedras e a rota era por dentro do rio, por uns 50 metros, na saída do rio, andamos em sua margem por mais 100 metros e saímos novamente na estrada que estávamos, uns 200 metros à frente, se tivéssemos seguido a estrada gastaríamos 5 minutos para chegar, como seguimos o GPS, gastamos 1 hora. Mas faz parte da brincadeira.


Seguimos em frente e logo chegamos na divisa do Paraná com Santa Catarina, próximo ao Vale do Rio negro, sua nascente. Seria a segunda etapa do dia. A vegetação mudou completamente a partir da divisa, o que era reflorestamento passou a ser campos de altitude. Passamos pela divisa por mais 2 vezes e na terceira encontramos um marco, obelisco, melhor dizendo, onde constata, no meio do nada, a divisa do Paraná com Santa Catarina, coisa de louco.

Caminhamos por mais 2km e entramos nos campos do quiriri. Neste momento percebemos que havia companheiro completamente exausto, quebrado, não tinha mais condições de ir em frente, decidimos dividir o conteúdo de sua mochila com alguns companheiros para a sua caminhada tornar-se mais fácil. Caminhamos por mais 2 km. Ainda havia chão para andar até chegar na pedra da Tartaruga, onde era nossa intenção de chegar. No entanto, o dia já estava findando, decidimos por acampar nos campos do quiriri, próximo à pedra da tartaruga. Andamos neste dia por 21km. Assim como no acampamento anterior, cada um buscou um lugar para armar a barraca. Preparamos nossa refeição ou comida quente e buscamos descansar para a atividade do dia seguinte. Na pedra da tartaruga era o lugar onde haveria a possibilidade de corte para os que quisessem abortar o trecking. Como havia alguns companheiros bem cansados, ficamos de decidir na manhã seguinte se seguiríamos para terminar a caminhada até o monte crista ou, da pedra da tartaruga, seguiríamos pelo corte e abortaríamos a missão.

Dia 3

Durante a segunda noite, ventou e choveu muito, houve barracas que alagaram impossibilitando o descanso por completo de alguns. As 5 e 30 horas da manhã ja havia gente acordada, desmontando barracas, fazendo seu café da manhã e preparando suas mochilas para sair. Tudo isso durou em torno de 1 e 30 horas.
Na reunião de saída, as 7 horas, ficou decidido que tocaríamos em frente, que os pertences da mochila de um integrante seria dividido entre os demais, possibilitando a ele terminar a expedição. Seguimos em frente e não subimos na pedra da tartaruga, havia muita neblina e o esforço não valeria a pena. Caminhamos sempre seguindo o GPS em direção ao morro do bradador ou morro da antena, subida bem íngreme com necessidade de utilização das mãos para subir.

Do Morro do Bradador seguimos em direção a fazenda Ciser, passando pela única casa vista durante todo o percurso. Para passar pela fazenda é necessário ter autorização do proprietário e deve ser conseguida com antecedência.

Seguimos em frente em direção a pedra do lagarto, nesta região começamos a encontrar novamente vegetação alta, estávamos chegando ao monte crista. Chamou a atenção quando chegamos em uma trilha onde aparentemente era calçada com pedras, formando escadas, trata-se da trilha do peaberu ou Caminho dos Ambrósios, chovia muito e não conseguíamos ver muita coisa mas conseguimos ver o monte crista ao alto à frente com o seu guardião ou vigia, uma formação em rocha sobre rocha possível de ver de longe, além do monge e seus discípulos, também formações em rocha no alto do monte crista.

Chegamos ao Monte Crista, não subimos até o cume pois nada se via em decorrencia da neblina, decidimos descer em direção a Garuva, descida forte, segurando por vegetação e raízes, com 8,9km até o pé do monte crista onde encontraríamos nosso ônibus para voltar pra casa. Alegria estampada nos rostos dos 23 aventureiros que chegaram ao final da expedição. Neste dia andamos por 24km.
Os 60km formam duríssimos, exigiu esforço sobrehumano, mudou o humor de muitos, mas a alegria de terminar e descobrir que somos capazes de coisas inimagináveis é um conforto e alento para nossas almas. Parabéns a todos, parabéns.


Nestes 3 dias, passamos por uma região maravilhosa, provida de uma beleza incrível, imagens inesquecíveis.
Suba o mais alto que puder e vislumbre de paisagens que enriquecem a alma e enche o corpo de prazer.
E que venha a próxima…..

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