Travessia Cusco – Peru a Rio Branco – AC – 06 a 16/03/2017

Introdução:

 

Planejamos essa travessia entre as cidades de Cusco no Peru e Rio Branco no Acre/Brasil no mês de junho/2016.

Estavamos em 5, Joacir Pirolo (56), Edinaldo Bacana (54), Eder Baptista dos Santos (48), Vanderlei de Lima, Nico (37) que desistiu por motivos e Augusto Jamus (28). Alguns dias depois a equipe aumentou para 6, com a entrada do Nicácio José da Silva (62).

Tínhamos um problema de quantidade de dias para a travessia, alguns dos integrantes trabalham e não tinham disponibilidade de um período tão longo para faltar ao trabalho. Depois de algumas reuniões todos concordaram que as datas poderiam ser de 03 a 18/03/2017, entre viagem de ida, travessia em cicloviagem e a volta.

Compramos as passagens para essas datas e fizemos um planejamento prévio que ficou da seguinte forma:

Dia 03/03/2017 – Viagem de Londrina – PR/Brasil a Cusco-Peru.

Dia 04/03/2017 – Tour por Cusco – Peru (veja post neste blog)

Dia 05/03/2017 – Tour MachuPicchu e WyanaPicchu (veja post neste blog)

Dia 06 a 16/03/2017 – Travessia Cusco-Peru a Rio Branco-AC/Brasil – 973 km pedalados em 11 dias

Dia 17/03/2017 – Encachotamento das bicicletas e tour por Rio Branco-AC/Brasil

Dia 18/03/2017 – Viagem de Rio Branco-AC a Londrina-PR

 

A Cicloviagem:

 

Dia 06/03/2017 – Cusco/Peru a Urcos/Peru – 50km

O dia amanheceu com uma chuva fina, ininterrupta. Acordamos cedo, 6:30hrs e montamos os alforges e outras bagagens nas bicicletas. Aguardamos até as 7:00hrs para tomar café no hostal Kurumi. Após o café decidimos ir até a Plaza de Armas para a foto inicial e câmbear alguns reais (R$) por Nuevos soles (/S). Também aproveitamos para comprar algum alimento, água e capas de chuva para as bagagens e para o corpo. Todo esse procedimento fez com que iniciássemos nossa viagem as 9:30hrs.

Enfim saindo de Cusco. Trânsito caótico, muito movimento de carros, alguns pedindo passagem como se estivéssemos atrapalhando, mas tomamos bastante cuidado pra não ocorrer nenhum acidente. Também estava com o asfalto muito sujo, enlameado que sujou a bagagem, bike e as nossas roupas, e assim foram por aproximadamente 10km até sair da cidade e iniciar a rodovia transoceânica. Boa parte deste trecho tem ciclovia, no entanto os moradores a utilizam como estacionamento de seus carros, tornando impossível utilizá-la. Na rodovia a chuva parou e a temperatura aumentou, então pudemos tirar as capas de chuva e as roupas mais pesadas. O trecho entre Cusco e Urcos, de 50km, é praticamente plano e com um bom acostamento para pedalar. Durante esta parte da viagem várias placas indicavam o trânsito de bicicletas.

A curiosidade deste trecho ficou por conta de um mostruário de torresmo, colocado à frente dos estabelecimentos, normalmente bares, onde o couro é frito em pedaços grandes, imagine se não compramos.

Chegamos a Urcos no Peru, nossa primeira parada, pouco depois do meio dia, almoçamos e procuramos um local para nos hospedar. Urcos tem algumas hospedagens e não foi difícil localizar uma que nos deixassem tranquilos pois as noites estavam frias e os cobertores pesados seriam necessários nestes primeiros dias da viagem.

Tínhamos a tarde e a noite livre para descansar. Sabíamos que o dia seguinte seria bastante difícil, iríamos começar a escalada das montanhas andinas.

 

 

Dia 07/03/2017 – Urcos/Peru a Ocongate/Peru – 60km

 

Sabíamos que teríamos muita subida pela frente. Fizemos o desayuno as 7:00hrs e as 7:30hrs ja estavamos pegando estrada. Ao passar pela ponte em Urcos, começamos a subir a cordilheira, agora era oficial, estavamos literalmente escalando montanha.

Nesta primeira parte andamos aproximadamente 5km e chegamos a um trevo, indo à direita, descendo em direção ao Lago Titicaca e La Paz na Bolívia e à esquerda, subindo, em direção aos Andes. Pegamos a esquerda, iriamos até Ocongate-Peru. Continuamos subindo por 500 metros e encontramos a placa da Carretera Interoceanica sur, que nos levaria até Rio Branco-AC.

A partir desta placa começamos subir uma estrada serpenteada por  14km com 518metros de ganho de altimetria. Durante estes 14km fizemos algumas paradas para descansar e ao final chegamos ao segundo ponto mais alto da nossa viagem, o Abra Cuyuni a 4185 metros acima do nível do mar.

Andamos por mais ou menos uns 500 metros e nos deparamos com um mirante natural com vista para as montanhas andinas, cobertas de neve. Escolhemos o local para tirar algumas fotos, foi um momento de muita emoção, pelo esforço e pela beleza do visual.

Ainda faltavam alguns km para terminar a viagem do dia, e muita subida ainda. Deste Mirante, para chegar a próxima localidade Huara Huara ou CCATCA, onde almoçamos, foram 10km de descidas, descemos 515 metros de altimetria. Ao chegar em Huara Huara procuramos um local para almoço e só encontramos alguma coisa no mercado municipal. O cardápio era Arroz com frango frito, nada mais, e estava ótimo. Comemos, descansamos uma meia hora e saímos para terminar o pedal. Tínhamos ainda mais 31 km de estrada, no entanto, somente 7km de subida, uma única subida.

A curiosidade deste trecho ficou por conta de uma parada que fizemos, logo após Huara Huara, em um bar restaurante de beira de estrada. O apelo de marketing para atrair o pessoal para o restaurante era a oferta do tradicional Cuy, um tipo de roedor preparado assado em forno, muito apreciado na região. O único que se aventurou em apreciar a especiaria foi o Nicácio. É claro que o Augusto não deixou de experimentar um pedaço do Cuy.  O preço do prato, como na foto abaixo era de S/ 50 (cincoenta nuevos soles), aproximadamente R$ 53.

Este último trecho não foi muito difícil e conseguimos chegar em Ocongate-Peru um pouco depois das 15:00horas. Procuramos pela hostal Siesta, indicação de uns amigos de Rio Branco-AC que ja haviam passado por lá.

Na noite anterior os termômetros marcaram -7ºc e a previsão para esta noite seria de +2ºc, mas precisaríamos de muita coberta para passar a noite.

Como chegamos relativamente cedo em Ocongate, tiramos a tarde para atualizar os aplicativos de rede social (whats e face). Foi necessário ir a um serviço de internet que ofereceu o serviço de Wi-fi e funcionou muito bem. Em um determinado momento o Bacana queria saber o resultado do jogo do Palmeiras e eu disse: entra no UOL esporte que lá tem todos os resultados. Imediatamente o Augusto disse: “Mas aqui no Peru não tem UOL”. Olhamos um para o outro e nos debruçamos de tando rir. O menino é novo, ele aprende.

Também visitamos a cidade para conhecer um pouco do povo peruano. Ao cair a noite, temperatura abaixando, procuramos uma pizzaria e levamos pizza e cerveja para o hostal Siesta.

A cerveja, que era vendida à temperatura ambiente, também fazia parte de todas as nossas paradas. Cerveja Cusqueña, a negra, de trigo, dorada e pilsen.

 

Dia 08/03/2017 – Ocongate/Peru a Marcapata/Peru – 67km

O pedal deveria começar bem cedo, tínhamos pela frente uma subida de 40km com 1257 metros de ganho de altimetria e ao final dela estaríamos a exatos 4725 metros acima do nível do mar. Os primeiros 34 km foram marcados por uma subida constante e não muito pesada, no entanto, a medida que subíamos sentíamos a influência da altitude.

Ninguém sofreu com dores de cabeça, falta de ar na puxada para os pulmões, nem nada disso.  O desconforto que tivemos eu defino como falta de abundância de oxigênio no ar, sua troca em nosso corpo e no transporte nas artérias e vasos e na transformação de energia para pedalar montanha acima. Literalmente a gente pedalava e em determinado momento fadigava de tal forma que era necessário parar para respirar um pouco. Isso aconteceu muitas e diversas vezes.

Com 22,1 km, em Mahuayani, ainda as 10 horas da manhã, almoçamos e descansamos um pouco.

Aproximadamente as 11 horas retomamos a cicloviagem. Até o ponto mais alto ainda restavam 17,9 km. Não tínhamos conhecimento de que até o topo da montanha teria mais algum lugar para parar e comer ou tomar alguma coisa. Pedalamos subindo por mais 12 km, sob chuva. O frio aumentava na proporção que a altimetria aumentava e para nossa sorte encontramos um restaurante mirador com visão para o alto da montanha. Estávamos a 7 km do cume. Nos reabastecemos e descansamos por aproximadamente 1 hora. Descobrimos que nestes 7 km teríamos que subir aproximadamente 277 metros, com chuva e o frio aumentando muito. Neste trecho de 7 km, Nicácio e Augusto tomaram a frente e foram subindo. Bacana e Eder ficaram um pouco para trás e logo no início da subida mais íngreme desceram da bike e subiram empurrando. Eu fui subindo pedalando e parando à medida que o fôlego deixava. Lembro que nos últimos 5 km devo ter colocado o pé no chão por, pelo menos, duas dezenas de vezes, puxava um pouco de fôlego e continuava.

Fui subindo e após uma curva, sob neblina, chuva e frio, notei que Augusto e Nicácio estavam na placa Abra Pirhuayani – 4725 msnm, era o fim da subida, estávamos no ponto mais alto da nossa aventura. A uns 100 metros da placa, fiquei aguardando o Eder e o Bacana que não demoraram a chegar, e fomos, os 3 até a placa nos encontrar com os outros 2.

Ficamos por alí, curtindo aquele momento, afinal era o lugar mais alto que já havíamos colocado os pés. Mas a temperatura estava a 2ºc, com chuva, neblina, sensação térmica de -5ºc, tínhamos que tocar o passo, afinal, até Marcapata ainda restavam 27km em descidas serpenteadas. Antes de começar a descer me preparei, coloquei luvas de lã, cachecol, bata clava, gorro e capacete, além de Anorak, blusa de frio e a blusa a prova de chuva, afinal, estava bem agasalhado pois sabia que na descida com frio e chuva o bicho ia pegar.

Ao iniciar nossa descida notamos que havia neve ao lado de uma construção. Há 5 dias atrás, o cume estava todo tomado de neve e nós registramos o pouco da neve que sobrou.

Logo no início da descida a estrada serpentiava a todo momento, os caminhões (2) tinham dificuldade para subir, necessitando também de paradas constantes para esfriar o motor e nós continuávamos descendo e sentindo a influência do frio, principalmente nas mãos. Com 5 km de descida, muitas curvas à direita e à esquerda, o grupo parou em uma casa para se proteger do frio, era um bar onde oferecia poucas coisas, mas tinha café quente e notas de Us$ 100 jogadas pelo chão. Assim que cheguei na casa, já estavam lá o Augusto, o Nicácio e o Bacana. O Eder levou mais um tempinho para chegar. Entramos para nos proteger da chuva e do frio e notei que o Eder, Bacana e Nicácio estavam batendo queixo e tremendo muito. Pedimos café para os 5 e a menina que atendia o local foi fazer. Também procurávamos um meio de impermeabilizar nossa mão com sacos plásticos, a chuva molhou nossas luvas e estava congelando a mão. Nesse meio tempo o Nicácio, percebendo a fragilidade dos colegas (estavam com sinais de hipotermia) saiu, pegou sua bike e continuou descendo. A idéia do Nicácio era descer o mais rápido possível, chegar a Marcapata e voltar com socorro. Eu dizia que parado naquele lugar era pior do que descer, porque descendo a temperatura iria aumentar, a chuva e a neblina daria uma folga e o corpo esquentaria, no entanto não me ouviam, diziam entre batidas de queixo, que deveriam estabilizar primeiro para depois tentar descer. Ao chegar o café, em canecas de lata esmaltadas, cada um pegou o seu e eu tomei o meu. Quando olhei para o Bacana e o Eder, eles primeiramente seguraram a caneca entre as mãos para aquecer e posteriormente deixaram a caneca em cima da mesa e colocaram a mão dentro da caneca, no café quente. Segundo eles, isso deu um UP na condição física e melhorou bastante. Decidimos retomar a descida. Para isto, protegeram as mãos e as luvas com saco plástico e começamos a descida. À medida que descíamos, a condição de respiração, conforto térmico, e a paisagem do local foi melhorando, a chuva parou e a neblina estava bem menor. A Descida até Marcapata foi por um vale muito bonito, região lindíssima, a rodovia serpentiava o tempo todo e conseguíamos ver toda a beleza da natureza naquela região, além, é claro, da rodovia que era um marco estrutural em meio aquela beleza natural. Nesta descida impossível registrar com fotos ou filmes, a gente não consegue pensar nisso devido ao clima, mas tudo ficou gravado em nossa mente. Não demorou muito e chegamos em Marcapata. Antes de Marcapata há uma única subida, de mais ou menos 1 km até chegar ao centro. Chegando lá, estava o Nicácio, que disse que não conseguiu um táxi para buscar o pessoal porque não tinham estrutura para carregar a bike. Procuramos por uma hospedagem, a intenção era entrar, tomar um banho e trocar as roupas por secas, no entanto, nenhuma ‘hospedage’ oferecia banho.

Descemos por 1800metros (perda de altimetria), chegando a 2900 acima do nível do mar.

Curiosidade:  todos os ‘hostal’ e ‘hospedage’ não oferecem banho. Para tomar banho utiliza-se de um local denominado “baños termales” e é coletivo. Há vários destes em Marcapata, todos na parte baixa do outro lado da cidade que tínhamos chegado pirambeira abaixo, seguindo o fluxo da rodovia serpenteada.

Procuramos um hostal na parte baixa para ficarmos perto dos Baños termales. Encontramos um onde todos os 5 iriam dormir em um único quarto. Camas bem arrumadas, limpos e o banho a uns 200 metros. Nos arrumamos no quarto, pegamos sabonete, toalha e fomos para o “baños termales”.

Ao chegarmos lá, o preço para entrar era de S/ 2 (dois nuevos soles) – R$ 2,5. e o negócio era comunitário, praticamente toda a cidade utiliza-se destes lugares para tomar banho. Posso dizer que foi uma experiência única, homens e mulheres desfrutando dos mesmos tanques de águas quentes, correntes, para o banho. Tem que entrar com roupa, não pode usar qualquer tipo de sabão e sabonetes, shampoos, condicionadores, nada e a água é bastante quente. Tem tanque que não dá nem para entrar de tão quente.  Posso dizer que foi bem melhor que um banheiro normal. Relaxante e descontraído.

Ao voltar à ‘hospedage’ a proprietária havia preparado nosso jantar, como combinado antes de sair para o banho, muito bom, preparado com carinho.

Sobre a região de Marcapata: belíssima, a natureza foi generosa, tem um potencial turístico muito grande, pouco explorado e com alguns parques arqueológicos. Um dos lugares de montanhas mais bonitos que já ví em minhas andanças por aí.

Combinamos sair bem cedo para Quincemil, próxima parada.

 

Dia 09/03/2017 – Marcapata/Peru a Quincemil/Peru – 70 km

Acordar as 6:30hrs, café as 7:00hrs e saída logo após o café. Essa era a proposta. Mas veio o imprevisto. A Bike do Eder estava com um problema no câmbio dianteiro. Ele já havia reclamado anteriormente, mas não demos muita atenção. Só que agora o câmbio soltou o parafuso de fixação e desceu até na coroa, impedindo de pedalar. Analisamos e constatamos o problema, eu vi que para ter acesso aos parafusos de fixação seria necessário sacar o pé-de-vela, colocar o câmbio no lugar e apertar bem apertado os parafusos. No entanto, não tínhamos as ferramentas para consertar. Fomos em uma oficina de motos que conseguiu tirar o pé-de-vela, restando somente os ajustes finos de fixação do câmbio e aperto do parafuso. Feito isto a bike estava novamente em condições de uso.

Partimos próximo das 9:00hrs, seria aproximadamente 70 km em descida com perda de altimetria de 2200 metros. No início a estrada serpentiava de forma que a gente conseguia vê-la sempre abaixo. Passando uns 10 km entramos em um vale, entre montanhas, seguindo o rio, descida levemente inclinada e que não precisava pedalar e assim foi por aproximadamente 55 km. A uns 5 km de Quincemil, após atravessar a ponte do rio houve algumas subidas pequenas mas que não utilizava muito esforço. Chegamos a Quincemil. Neste ponto estávamos a 700 metros acima do nível do mar, a temperatura ambiente mudou bastante e estávamos nos sentindo bem mais a vontade.

Em Quincemil há várias hospedagens, perguntamos a algumas pessoas qual era a melhor e nos indicaram um hostal, aparentemente novo. Estava decidido, seria neste local mesmo. Lugar para deixar as bikes, lavar as roupas, quartos bons.

Após o banho, utilizamos nosso tempo andando pela cidade e procurando lugar para fazer uma refeição e escolhemos o local ao lado do Hostal, mesmo local que utilizamos para o café da manhã do dia seguinte.

O Ponto fraco em Quincemil é que não havia internet, as lojas que ofereciam este serviços estavam inoperantes neste dia. No entanto, o Augusto conversou com o Vice Prefeito e conseguiu usar o Wi-fi da prefeitura para passar as informações do dia.

 

   

 

Dia 10/03/2017 – Quincemil/Peru a Mazuko/Peru- 67 km

Em Quincemil a nossa cicloviagem mudaria de perfil. Até aqui nos deparamos com altas altitudes, chuvas, frio, subidas e descidas de longas distâncias. A partir de agora teríamos muito calor, altitude variando entre 700 e 300 metros acima do mar, chuvas de verão, as subidas e descidas não muito longas e até à divisa com o Brasil estaremos acompanhados pela floresta amazônica.

Acordamos cedo, tomamos nosso café e saímos perto das 7:00 horas. Sabíamos que íamos pegar algumas subidas e queríamos chegar cedo em Mazuko pois era uma cidade um pouco maior que as duas anteriores e certamente haveria coisas mais interessantes para fazer.

Durante a cicloviagem nos deparamos com alguns garimpos, nada tão demais, apenas algumas escavações com ajuda de máquinas pesadas. Também neste trecho tivemos nosso primeiro pneu furado, da bike do Bacana.

Não demorou muito e chegamos a ponte Golondrina, uma cachoeira belíssima com bons tanques de banho.

Seguimos viagem e logo chegamos à ponte sobre o rio Inambari, já próximo a Mazuko.

Chegando em Mazuko bem cedo, e pela primeira vez nos hospedamos em um Hostal com ar condicionado. Aproveitei para lavar toda minha roupa e coloquei para enxugar na esperança de que de manhã estivessem toda seca, tive a ajuda do pessoal do hotel que centrifugou toda minha roupa. Esse hábito de lavar as roupas onde possível era rotina de todos, não se pode bobear.

Mazuko é uma cidade média, ativa, tem de tudo, bons hotéis, bons restaurantes, pizzaria, bares e sorveterias. Fizemos nosso tradicional tour pela cidade, a pé mesmo, e fomos descansar um pouco. Mais tarde saímos para tomar uma Cusqueña e comer uma pizza.

 

Dia 11/03/2017 – Mazuko/Peru a Puerto Maldonado  – 170 km  (70 km pedalado)

A Viajem neste trecho prometia. Não tínhamos programado fazer um percurso de 170 km, mesmo porque havia integrantes do grupo que entendiam que não deveríamos andar tanto em um dia só. No entanto, o programado era fazer esse percurso em 2 dias. Teríamos que dormir em um local chamado de Union Progresso. Fomos informados de que nesta localidade não haveria hospedagem, o que nos deixou um pouco apreensivos pois os outros 4 integrantes não se prepararam para dormir em locais que não houvesse hospedagens.

No início teríamos que subir a sierra Santa Rosa, vou contar como foi: subimos com uma razoável inclinação por 1,3km, descemos por exatos 1,0km, começamos a subir de novo por 3,7km e descemos por 4,0 km, totalizou 5 km de subida e 5 km de descida, confesso que não esperava subida tão longa, mas de boa. Chegamos a localidade de Santa Rosa onde paramos para tomar um gatorade num bar.

Neste trecho, havia também a passagem por uma grande área de garimpo com milhares de pessoas morando na beira da estrada, próximo aos garimpos. Pouco antes de chegar à vila, paramos em um bar onde havia uma arara mansa, tiramos algumas fotos e seguimos viagem.

A intenção do Eder e Augusto era de visitar o garimpo, no entanto, ao chegar na vila dos garimpeiros, não no garimpo, mas na vila, na rodovia, fomos informados de que na semana anterior haviam queimado vivos 2 pessoas no garimpo e que além disso para entrar na área de garimpo seria necessário o consentimento dos líderes e que isso só aconteceria se houvesse alguém com certo poder dentro do garimpo que pudesse pedir esta autorização. Desistiram.

A vila de garimpeiros tinha de tudo, vários comércios, bares e restaurantes, todos muito precários. A rodovia ficava tomada de motos cargueiras e mototaxi, um verdadeiro Caos.

Almoçamos na vila. Neste momento conversamos sobre até onde iríamos, houve a sugestão de pegar um carreto que nos levasse até perto de Puerto Maldonado. Como não tínhamos local para dormir entre onde estávamos e Puerto Maldonado resolvemos ver se teria alguém para levar-nos. Tínhamos 2 opções, ou dormir no meio do caminho, sem estrutura, sem conforto ou ir até Puerto Maldonado onde teríamos toda a estrutura necessária ao nosso conforto. Após 1:30 hrs tentando conseguir carreto, sem conseguir, resolvemos desistir e tocar em frente pedalando. Pedalamos por mais 5km e passamos por mais uma vila, bem maior e mais bagunçada que a anterior, fomos passando, com dificuldade e muitas buzinadas. Tocamos em frente e após mais uns 4 km demos com a mão para um caminhão passando e ele parou, propomos a ele levar-nos até a localidade de Labirinto, mais ou menos uns 50km para frente, ele topou. Colocamos as bikes em cima do caminhão e fomos em frente. Em questão de beleza de local não perdemos nada, esta região não oferece grandes atrativos, as localidades eram bem simples e não despertam interesse. No final das contas ele levou-nos por 100km, até na entrada de Puerto Maldonado.

Em Puerto Maldonado nos alojamos em um Hostal bem confortável, ar condicionado, internet, televisão, ótimo local para deixar as bikes, tudo de bom e para um bom descanso. A cidade possui um amplo comércio, restaurantes e bares. Fizemos um toour pela cidade, jantamos em um hanburgueria e tomamos uma beer num pub, coisa chick. Fomos dormir tarde.

 

Dia 12/03/2017 – Puerto Maldonado/Peru a Alerta/Peru – 119 km

Apesar de termos ido dormir tarde, acordamos cedo para  o café da manhã, o primeiro oferecido por um hostal depois de Cusco. Oito (8) horas da manhã e estávamos no trecho. Aqui começou uma viagem sem muitos atrativos, só a floresta amazônica dos dois lados da pista, alguns pastos e umas retas intermináveis com poucas subidas e descidas, enfim era pedal ativo (não para de pedalar o tempo todo), sem descanso. Após 3 horas de pedal chegamos a Planchon, cidadezinha pequena, precisávamos de um local para almoçar. Encontramos um local que servia arroz com frango assado e uma salada, o suficiente para nós e a beer não podia faltar. Descansamos um pouco e retomamos o pedal, ainda faltava muito, só tínhamos pedalado 40 km. Mais 20 km e chegamos em Alegria, onde paramos para nos reabastecer.

Pedalamos por mais 20 km e chegamos em Mavila, lugarejo onde paramos em um barzinho onde os pontos fortes eram o yogurte natural e o sorvete artesanal. Também nos reabastecemos de líquidos e pedalamos em frente, faltavam ainda 38 km até Alerta, destino final.  Paramos mais uma vez em La Novia, descansamos um pouco e retomamos. A noite começava a chegar quando adentramos na cidade de Alerta. Foi aquela correria para localizar as hospedagens e ver se tinha vaga para nós.

Há somente 2 hospedagens em Alerta  e após um dia inteiro pedalado, foi uma benção conseguirmos nos acomodar para mais uma noite de descanso.

Saímos após o banho para nos alimentar e comprar ingredientes para o café da manhã. Estava previsto para o dia seguinte 126 km até a cidade Boliviana de Cobija, então teríamos que sair bem cedo.

 

Dia 13/03/2017 – Alerta/Peru a Assis Brasil/AC-Brasil – 110 km

A programação original era pedalar 126 km, entrando na Bolívia na localidade de San Lorenzo/Peru e seguindo até  a cidade de Cobija.

Saímos bem cedo de Alerta, 6:30 horas, e tomamos o rumo de San Lorenzo. Chegando em São Lorenzo, sob uma chuvinha fina, perguntamos como era o trecho até Cobija/Bolívia e fomos informados que com as chuvas que estavam caindo por aqueles dias, de bicicleta não teria condições de passar. Resolvemos seguir rumo a Iberia, Iñapari e Assis Brasil-AC, onde dormiríamos. Logo após San Lorenzo passamos por um pedágio e seguimos viagem. A região não tem grandes atrativos, são pastagens dos dois lados da rodovia, grandes retas e poucas subidas e descidas. Passamos pela cidade de Iberia/Peru, fizemos um pequeno lanche.

Quase chegando em Iñapari passamos pela puente Yaverije, mais uma obra Odebrech.

Chegamos na divisa do Peru com o Brasil, de um lado Iñapari/Peru, do outro lado Assis Brasil/AC-Brasil. Paramos em um bar na entrada de Iñapari, próxima a alfândega peruana. Tomamos algumas beer e trocamos o dinheiro Peruano pelo Brasileiro.

Demos a saída no país vizinho na alfândega e seguimos em direção a Assis Brasil-AC.

Chegando em Assis Brasil-AC procuramos um hotel para nos instalar, afinal precisávamos comer e descansar, no dia seguinte teríamos mais 110 km. As coisas começaram a ficar mais fácil, pelo menos a comunicação ficou fluente.

Tomamos um bom banho e fomos procurar local para comer e beber. Para o jantar, Assis Brasil não oferece muita coisa, mas na praça central tem sempre aberto uma lanchonete que prepara vários pratos, o pedido foi picanha pra todos, deu bão.

Enfim estávamos no Brasil. Agora tudo seria diferente.

 

Dia 14/03/2017 – Assis Brasil-AC/Brasil a Brasiléia-AC/Brasil – 110 km

A Paisagem mudou completamente, o que era mata dos dois lados da rodovia agora virou pasto com poucos lugares de paradas (bares), mesmo assim não ficamos sem ser servidos de bares, no trecho paramos 2 vezes para um bom reabastecimento. O trecho era de intermináveis retas, com altos e baixos leves. Outra coisa que notamos é que na parte do Brasil, apesar de ter sido construído pela mesma empreiteira, a Odebrech, o asfalto não tinha a mesma qualidade, sem acostamento na maioria dos trechos e bastante danificado.

Saímos perto das 7:30 horas. Ter que pedalar 110 km neste dia não agradou todo mundo. Teve integrante do grupo que estava pensando em pegar mais uma caroninha.

Com relação do tempo que tínhamos para a chegada ao destino final, Rio Branco, estava tudo sob controle, com uma pequena folga. Eu particularmente não encontrava motivos para pegar carona em qualquer dos trechos que faltavam para completar a travessia. No entanto ficou a critério de cada um a necessidade de pegar essa carona ou não.  O bom censo prevaleceu e todos pedalaram neste percurso, mas não deixaram de estudar um “pedal mais prazeroso” no trecho seguinte.

A Comunicação com os locais ficou bem mais fácil, claro, estávamos falando a mesma língua.

Na primeira parada, um bar que servia água e refrigerantes, fomos convidados para  fazer parte de sua mesa de café da manhã, eles estavam fritando ‘bolinhos de chuva’ e modestamente nos serviram, a conversa fluiu bem legal. Falamos da nossa aventura, como havíamos passado pelo frio, altitude. Eles ouviam com bastante atenção, afinal não se tem histórias assim a toda hora.

Na segunda, em um comércio bem maior, encontramos várias pessoas sentadas à varanda, tomando uma beer. No lugarejo havia uma escola e estava no horário de saída e algumas daquelas pessoas estavam esperando filhos e netos saírem da aula para voltarem para casa, já era pouco mais do meio dia, faltando poucos km para chegar em Brasiléia. Das 4 pessoas que alí estavam, 2 eram paranaenses, de Umuarama, mas já estavam no Acre havia mais de 30 anos, foram com as primeiras turmas que o governo levou doando terras para fixar ‘espaço’ no território.

Bem, chegamos em Brasiléia/Brasil, cidade vizinha a Cobija/Bolívia, sob uma chuva bem fina, nos instalamos em hotel. Combinamos sair logo após o banho para almoçar. Foi nos sugerido uma churrascaria perto do hotel, mas quando chegamos por lá, 14:30 hrs, já estavam em processo de fechar, não deixaram de nos servir, só que não havia mais o churrasco e fritaram alguns bifes, bão tamém. Alí combinamos pegar um táxi e ir para Cobija ver o que tinha por lá. Cobija é uma cidade que oferece alguns produtos eletrônicos e roupas a um bom preço. Muitos brasileiros cruzam a fronteira para adquirir os produtos de lá. Interessante é que a gasolina na Bolívia é bem mais barata que no Brasil, no entanto, é proibido vender gasolina para brasileiros em Cobija, palavras do motorista de táxi. Feita a visita, decidimos voltar ao Hotel, em Brasiléia.

Dia seguinte iria ser bastante difícil. Não tínhamos conhecimento de que havia lugares para hospedagem entre os 150 km que ligava Brasiléia-AC a Capixaba-AC, portanto não havia programado nenhuma parada para dormir neste percurso. Decidimos que iríamos dormir em Capixaba-AC, no entanto, 2 parceiros resolveram que não iriam pedalar o percurso todo, iriam alugar um carreto para levá-los até uma distância razoável até faltar uns 70 km para Capixaba-AC. Eu, Augusto e Nicácio, resolvemos pedalar, portanto sairíamos bem cedo, afinal a proposta era pedalar 150 km.

 

Dia 15/03/2017 – Brasiléia-AC/Brasil a Capixaba-AC/Brasil – 150 km

Tomamos café no hotel e saímos cedo, 6:30 hrs, já na saída de Brasiléia encontramo-nos com um ciclista em treino matinal, ele parou e conversamos um pouco. A orientação que ele deu foi de tomarmos muito cuidado pois os veículos não respeitam os ciclistas, além disso, nos próximos 50 km não havia nenhum tipo de acostamento e, se fosse necessário, melhor jogar a bike no mato do que ficar na dúvida se vão desviar ou não. Mencionou também sobre o casal sueco que foram atropelados a dois anos atrás neste trecho onde a mulher veio a óbito.

http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2015/09/ciclista-sueco-que-perdeu-namorada-em-acidente-esta-confuso-diz-medico.html

É claro que redobramos nossa atenção. Não tivemos nenhum problema neste trecho, mesmo porque andamos sempre no limite do asfalto e em algumas situações saíamos do asfalto para evitar qualquer tipo de confronto, mas ficamos muito apreensivos.

Fizemos nossa primeira parada com 50 km, no posto da Polícia Rodoviária Federal, na entrada de Xapuri-AC. Neste local (imediações de Xapuri), além de contar com 3 pousadas, ao lado da PRF tem um Posto de Combustível com um excelente serviço de lanchonete. Nosso receio de não ter local para hospedagem era em vão. Lanchamos, nos reabastecemos e pedalamos em frente.

Andamos mais 50 km para encontrar um restaurante, iríamos almoçar. Restaurante e Chalés 3 meninas. Estrutura de primeira qualidade, um resort. Almoço tipo restaurante rural com diversidade de escolhas para alimentação, além de todas as bebidas necessárias, um achado. O local servido por um grande lago onde a curiosidade era a quantidade de tartarugas, umas com mais de 50kg. Sob encomenda o restaurante serve tartaruga também. Por curiosidade perguntei sobre os chalés. A diária do chalé para família era de R$180, no entanto havia somente 1 cama casal e uma solteiro, se houver mais pessoas tem que usar colchões no chão. Mais uma vez havia lugar para ficar no caminho.

Faltavam ainda 50 km até Capixaba, nossa última estadia antes de Rio Branco-AC. A intenção era não fazer outra parada mas sabe como é né, tivemos que parar mais uma vez para tomar um refri (açucar) para terminar o trecho.

Enfim chegamos em Capixaba-AC, no hotel as 16:45hras, Como o Bacana e o Eder já estavam por lá, ficamos conversando (descansando e bebericando) por quase 1 hora com o proprietário do hotel que rendeu altas histórias sobre a vinda dele para Capixaba, que na época não tinha nada, a fama de Capixaba como cidade que mata crianças, fruto de um episódio acontecido a muito tempo e as histórias de onça, inclusive ele disse que matou umas 3 no tiro, depois dessa era melhor ir tomar um banhão, justo.

Combinamos de comer alguma coisa, e o que tinha era um local que oferecia espetinho completo (com farofa, salada, arroz). Após isto, estávamos cansados da pedalada e fomos dormir e nos preparar para o último dia da viagem.

 

Dia 16/03/2017 – Capixaba-AC/Brasil a Rio Branco-AC/Brasil- 90 km

Último dia, nem precisava sair muito cedo, estávamos dentro do nosso prazo de validade. Como sempre, nos alimentamos antes da saída. Sabíamos que era um pedal mais tranquilo e mais rápido, sem os muitos sobes e desce (leves) dos dias anteriores e que poderíamos ir mais de boa. Os primeiros 55 km fizemos 2 paradas para tomar um líquido, normalmente era gatorade mas podia ser refri também. Chegamos em Senador Guiomard próximo das 11:00 hrs e logo na entrada da cidade encontramos uma boa churrascaria e os apavorados nem titubearam e pararam para o almoço. Neste momento ficamos sabendo que o pessoal da AC Bikes estariam vindo de Rio Branco para nos acompanhar, de carro, na reta final da nossa expedição.

No restaurante havia uma equipe da televisão local e nos perguntaram o que estávamos fazendo. Explicamos e eles acabaram fazendo uma matéria com a gente, foi legal, mas ainda não vi a matéria.

Não demorou muito e a AC Bikes chegou. Conversamos bastante por uma hora mais ou menos e decidimos sair para terminar nosso pedal.

A Ida até Rio Branco foi bem rápida, praticamente toda a via de Senador Guiomard até Rio Branco possui ciclovia ou espaço para bicicleta, além de estarmos com apoio de retaguarda da AC bikes.

Chegamos em Rio Branco.

Em Rio Branco – AC nos dirigimos até a AC Bikes onde iríamos deixar nossas bikes para encaixotar, nossa viagem de volta a Londrina seria no dia seguinte.

Na AC Bikes fomos recepcionados com um coffee break. Conversamos bastante, rimos muito. No final da tarde pegamos nossa bagagem e nos levaram para o hotel. Deixamos as bikes na bicicletaria.

No dia seguinte fizemos um tour por Rio Branco, passeamos no shopping, fomos ao mercado municipal, almoçamos, demos entrevista para a Rede Amazõnica Acre e fomos buscar nossas bikes, deixando-as no hotel até a hora de ir para o aeroporto.

http://g1.globo.com/ac/acre/acre-tv/videos/t/edicoes/v/grupo-de-ciclistas-pedala-por-mais-de-mil-quilometros-do-peru-ao-acre/5734999/

Resumo:

A saída de Cusco é muito tumultuada. De Urcos até o ponto mais alto, a 4725 metros acima do mar, são 100 km que subimos muito. A região andina é muito bonita. A partir do ponto mais alto, a viagem ficou mais tranquila. Durante a cicloviagem não faltou hospedagens e restaurantes. Viagem recomendada.

 

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