Ser bicigrino pelos caminhos do peregrino – Pamplona e Estella

Nesse terceiro dia de pedal, penso que devemos fazer algumas considerações sobre como pedalar em um caminho que passam muitos peregrinos. A nossa responsabilidade aumenta a medida em que somos os mais fortes e quando dividimos um caminho com pedestres, todo cuidado é pouco. No Caminho de Santiago os peregrinos seguem orando, contemplando e por isso se distraem com facilidade. Sendo assim, a questão é pedalar com responsabilidade. É lindo estar com eles e ter a contrapartida do “hola”: nós passamos por gente de todo o mundo e o cumprimento  faz parte desse momento mágico. Parte linda de nossa trajetória, o Morro do Perdão aparece cheio de pedras e dificuldades para alcançá-lo, mas todo perdão exige uma dose de sofrimento e o Caminho nos proporciona o discernimento que nasce da reflexão.

Sempre procuramos ficar em albergues, pois o custo é mais baixo e temos tudo o que precisamos: quarto, banheiro, lavanderia e ainda uma cozinha se você quiser arriscar. Você busca por preço, porém nem sempre é o que te motiva a ficar no local. Em Estella, paramos eu e o Pirolo em frente a um albergue e, coincidência ou não, sai um brasileiro de dentro e ouve a gente conversando, se aproxima e diz: “Fiquem nesse. É um local simples, comunitário (todos no mesmo espaço para dormir) mas tem um diferencial… vocês serão atendidos por portadores de necessidades especiais”. Bem, entrei, fui até a recepção onde duas garotas faziam o atendimento (essas eram voluntárias e falavam inglês, espanhol e francês), mal cheguei e um garoto,  portador de paralisia cerebral, me ofereceu um copo de água – hum,  que delícia, fria na temperatura certa!  Outro nos leva e apresenta as acomodações seguindo um roteiro pré estabelecido, mas recheado de muita atenção e alegria. Fiquei embasbacada, feliz e tive certeza que a diferença nos faz irmãos. Caminho de Compostela e seus ensinamentos… coisas da vida, coisas dos homens, força que vem de Deus.

 

 

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